sexta-feira, 27 de novembro de 2009

TEMPO DE POESIA

CANTICO VERMELHO

Amo-te Felisberta
com a voz silenciada do meu sangue irmão
Da mais funda gruta de África
nosso hino rebenta florindo
os velhos jacarandás do teu país
Ordeiro, calo-me
Mas é nos teus olhos que enraízo
os meus versos salgados
neles afogo para sempre!
o orgulho que me ensinam
e de que só me defende
tua ingénua mão espancada de séculos
Amo-te Felis
na cândida melodia
das marimbas do teu povo
Amo-te Felis
no ritmo de mensagem cega
pura
das canções de tuas avós violadas
Amo-te Felis
com um amor marejado de lágrimas
as mesmas, querida,
que humedeciam nos mares antigos
o brumoso convés dos seus barcos negreiros

Mas só to direi simplesmente
quando à quieta luz dos dias que hão-de vir
o meu grito de guerra e de poeta
se quebrar em tua boca enfim livre
nos beijos despidos
da vergonha que me cobre.


Sebastião Alba (1940-2000)
poeta moçambicano

1 comentário:

  1. Lindo "CANTICO VERMELHO"
    de Sebastião Alba

    Deixo o meu contributo partilhando Ondjaki

    Do livro: "HÁ PRENDISAJENS COM O CHÃO"

    "SEGREDOS


    chovo-me folhas
    em abano de árvore
    banho-me de pingos
    com picos achuviscados.
    cuspo pés de relva
    mas abocanho terras.
    bitroncalizo galhos
    para manuesar estalidos.
    atropelo-me por bichinhos
    para xinguilar-me em cócegas.
    salivo sóis
    pondo língua em estendal.
    furo peles
    para o chão sanguenehcer-me.
    desatribuo vestes
    chibatando-me de ventos
    desorbito olhos
    e reorbito-me luas.
    para fraldas
    uso nuvens.
    afogueiro-me fumos
    desumanizando cheiros.
    para iluminar mundos
    invoco pirilampos.
    enquerendo saltitar
    apulgo-me.
    em comichões
    aguardo terramotos.
    para paz
    prescrevo assilêncios.
    para repaz
    procuro âmagos.
    chovo-me lágrimas
    em sacudir de mins.
    para segredos húmidos...
    só respeito a lesma."

    MmeCorreia

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