domingo, 15 de novembro de 2009

O PANGOLIM JÁ CHEGOU?

Nasci em Moçambique e vivi na Zambézia.
Já lá vão uns anitos largos; os suficientes para já ter perdido os meus pais e para me nascerem alguns cabelos brancos.
Fui uma criança normal. Apanhei matacanha, tive filária e paludismo.
Brinquei nos areais do Chinde, nas morrumbalas do Luabo e de Marromeu.
Pesquei garoupas, bagres e caranguejos.
Conheci o Zambeze como poucos.
Estas recordações marcam e as circunstâncias em que os factos foram vividos criam uma postura diferente daqueles que nunca estiveram em África.
Os anos passam. Vamos criando raízes e fortalecendo outras novas ligações.
Mas quem sentiu Moçambique como eu senti, jamais pode abandoná-lo.
Estou ligado, para sempre, a ele. Não porque tenha que ser, mas porque quero.
Daí FIGUEIRAMBIQUE. Uma mistura da Figueira, onde resido, com Moçambique onde nasci.
Estamos juntos!

5 comentários:

  1. Caro Amigo João, parabéns pela iniciativa e por este impulso de alma a Moçambique.
    Também eu estive naquela Pérola do Índico entre 1970 e 1972 levado pelas vicissitudes do serviço militar.
    Com passagens fugazes por Lourenço Marques (Maputo), Beira, Nampula, Mueda, acabei por assentar arraiais em Nangade junto ao Rovuma, com "viagens turísticas" a Palma e a Mocimboa da Praia.
    E mais tarde a saborear a tranquilidade e as belezas de Porto Amélia (Pemba).
    Um percurso que mantenho gravado nas minhas memórias e que deu para apreciar a beleza daquela terra e a simpatia das suas gentes.
    Quis agora o destino que a minha filha esteja no Maputo a trabalhar, depois de um estágio bem sucedido ao abrigo do Inov-Contacto, tendo aí a oportunidade como Lions de desenvolver o seu lado solidário.
    Por isso, meu Caro João, felicito-te uma vez mais por esta iniciativa e dizer-te que serei um visitante assíduo do teu blog!

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  2. Obrigado pelas tuas palavras.
    Vamos ver se o consigo manter vivo.
    Abraço.
    João Russo

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  3. João, antes de mais uma palavra primeira de PARABÉNS por esta belíssima iniciativa.
    Nesta "janela aberta ao mundo", todos vamos "crescer"! Por mim viverá sempre!
    Como ninguém "tira" o 1ºlugar a Manuel Amial, ainda tento conquistar o "podium"!
    A minha homenagem:

    "NATAL DA MINHA INFÂNCIA
    É Natal! Como dizia o poeta, “toda a gente é contente, porque é dia de o estar”.
    Lá longe, o fumo cinzento e espesso sai das entranhas da fábrica através da longa chaminé que parece perseguir o céu, limpo e fortemente azul. O silêncio habita cada momento e apenas se ouve o bater das pás da roda do navio nas àguas poderosas do rio Zambeze e o zumbido ténue da máquina.
    Chap,chap,chap… Fu,fu,fu,fu…

    O calor é sufocante, mas sopra uma ligeira brisa. Lentamente o navio onde viajo e onde passo a minha infância percorre a lenta, mas longa distância entre o Chinde e o Luabo.

    Falta pouco para chegar a terra e ao atracar é a alegria enorme de ver a Saozita e o Carlitos, a Rosa Manuela e o Albertino prontos para brincar enquanto ansiamos pela vinda do Pai Natal, que chega exactamente nessa noite.

    As almadias cheias de negros descem o rio, enquanto os crocodilos e os hipopótamos parecem alheios à passagem. As grandes águias fazem voos de rasante junto ao navio, como que a querer competir com ele na subida do rio.

    Das margens, homens e mulheres acenam com os braços, cumprimentando-nos.

    Pú,pú,pú… É o cumprimento através das sirenes dos navios. Chegámos.

    É grande a azáfama na abordagem pois as amarras devem ficar bem firmes, porque os navios vão estar atracados uns aos outros e pode vir mau tempo, como é habitual nesta época do ano.

    A maior parte dos tripulantes vão ter com as suas famílias. Um negro chega com alguns telegramas acabados de receber da metrópole, desejando Boas Festas.

    Ao jantar, todos à mesa, trocamos impressões sobre a vida e até parece que somos mais amigos uns dos outros.
    Como é reconfortante o Natal! Como é agradável viver!

    -“Então João Manuel o que é que pediste ao Pai Natal”?
    -“Eu pedi uma caixa de Dinki Toys e drops. E tu Carlitos”? -“ Eu pedi um Meccano”. “Eu quero uma boneca”, dizia a Rosa Manuela. Eu também, disse a Saozita.

    Faltava pouco para a chegada do Pai Natal, mas aquelas horas pareciam uma eternidade. Os nossos pais trocavam olhares furtivos.
    Vá meninos, agora vão dormir que são horas. Ponham um sapatinho junto ao fogão (não havia chaminé nem lareira) porque esta noite chega o Pai Natal com os presentes e ele coloca lá os brinquedos.

    A ansiedade era enorme e o sono não chegava. “Sãozita, tu já viste o Pai Natal?” “Eu não”, disse ela. “Dizem que tem grandes barbas, é gordo e vem com um saco cheio de prendas”, ripostava o Carlitos. “Um colega da escola disse-me que o Pai Natal não existe, mas não é verdade”, dizia a Rosa Manuela.
    Adormeci.

    A meio do sono um barulho estranho, sobressaltou-me e acordei repentinamente.
    Que seria? Será o Pai Natal?
    Levantei-me de mansinho. Pé ante pé fui até à cozinha e eis senão quando vejo o meu pai, tranquilamente a colocar os presentes junto aos sapatos que cada um de nós tinha colocado na véspera.

    Pé ante pé, voltei para a cama. Tranquiliamente adormeci a sorrir.

    De manhã os meus primos estavam radiantes e gritavam de alegria, enquanto abriam os presentes. “Que bom, um Meccano!”. “Que bom uma boneca!”
    A minha alegria era diferente, mas comunguei com eles a satisfação de receber as prendas do Pai Natal.
    Para quê dizer-lhes que o que acontecera? Que cada um o descubra por si e que o Pai Natal se revele a cada um de nós à sua maneira.

    Como é bom acreditar no Pai Natal!
    Como é bom acreditar no Homem e na sua capacidade de lutar e de transformar a Humanidade!

    Natal é tempo de alegria, de comunhão, de paz, mas saibamos, agora mais velhos e conscientes (e caldeados pela vida), que, como dizia o poeta, “de nada podemos esperar de novo, senão de nós mesmos e das nossas mãos e dos nossos actos e da nossa alma…”.

    É Natal! Como dizia o poeta, “toda a gente é contente, porque é dia de o estar”.

    João Pedrosa Russo"

    MmeCorreia

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  4. Obrigado Maria Teresa, pelo incentivo e pela agradável lembrança.
    Abraço
    João Russo

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  5. como gostei desta emocionante viagem, que várias vezes fiz, pelo zambeze!
    nasci no chinde, estudei em quelimane e lourenço marques e, aguardando a maioridade...para me deixarem ingressar em belas artes, dei aulas no colégio de s. francisco de assis, no luabo, que marcou a minha vida.AMEI a missão de educar!

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